A primeira porta
Na Farmácia Ideal, no Feijó, está bem firme a ideia de que o trabalho dos seus farmacêuticos vai além da dispensa de medicamentos ao balcão. Em parceria com a Junta de Freguesia local, foi criado o projeto Olimpíadas da Saúde, que materializa esta vocação em prol da saúde dos cidadãos.
Texto de Teresa Oliveira | WL Partners
A celebrar uma década de funcionamento, a Farmácia Ideal tem procurado aliar à dispensa de medicamentos uma importante componente de promoção da saúde junto dos cidadãos que acompanha diariamente. Raquel Ramalheira, diretora-técnica, frisa isto mesmo. «Ao longo destes 10 anos o nosso trabalho foi muito além da dispensa de medicamentos», explica, acrescentando que o espírito da equipa a levou a criar diversos projetos de proximidade, «pensados para sensibilizar a comunidade para fatores de risco, muitas vezes pouco conhecidos, colmatar a dificuldade de acesso a alguns rastreios, incentivar estilos de vida mais saudáveis ou responder a lacunas de literacia em saúde que fomos identificando».
Entre as várias iniciativas que promovem, destacam-se as Olimpíadas da Saúde. O evento, desenvolvido em parceria com a Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó, já vai na terceira edição e tem registado uma adesão crescente. «Sentimos que precisávamos de ir ao encontro da população e as Olimpíadas surgiram dessa vontade», refere Raquel Ramalheira. O apoio da Junta tem sido determinante para a concretização do evento. Luís Palma, presidente da autarquia, sublinha que «o projeto da Farmácia Ideal, que nos desafiou desde o início, é fundamental, porque garante proximidade e disponibiliza iniciativas dirigidas à prevenção, através de um conjunto de rastreios e de sensibilização para questões ligadas à saúde».
O contributo da Junta de Freguesia neste evento traduz-se sobretudo em apoio logístico, licenciamento e divulgação, mas, como acrescenta o seu presidente, a relação com a Farmácia Ideal não se limita a este projeto. O autarca recorda, por exemplo, que, na pandemia, «as primeiras máscaras que a Junta distribuiu a trabalhadores e IPSS vieram da Farmácia Ideal». Para Luís Palma, esta colaboração de proximidade entre as duas entidades «é quase um caso de estudo». Quanto às Olimpíadas, «não são apenas mais uma atividade», afirma, «pela dimensão crescente, por acontecerem num espaço público e pela capacidade de envolverem toda a população deste bairro, são um evento muito expressivo».
Durante um dia, de manhã à tarde, as Olimpíadas disponibilizam gratuitamente dezenas de rastreios a participantes dos “oito aos 80 anos”. Para além das medições mais habituais — como a glicemia, colesterol, pressão arterial ou visão —, os utentes encontram exames menos comuns, como testes de intolerância à lactose ou ao glúten, despiste de insuficiência venosa, rastreios dérmicos e capilares, assim como avaliações nutricionais específicas para determinadas faixas da população, como é o caso dos idosos. «As pessoas têm a oportunidade de fazer um check-up mais completo», explica a diretora-técnica. Cada participante recebe ainda um “passaporte” onde ficam registados os resultados dos rastreios realizados. «Sempre que detetamos uma situação de risco ou parâmetros fora do normal, encaminhamos o utente para o médico ou para acompanhamento farmacoterapêutico», refere. «Nestas edições das Olimpíadas já sinalizámos situações que permitiram diagnósticos precoces, e isso mostra o papel crucial do farmacêutico na prevenção, no acompanhamento do doente e na integração em rede».
Esse “passaporte” tem também a função de facilitar o «seguimento dos dados de saúde de uma pessoa», acrescenta Raquel Ramalheira. «O rastreio feito nas Olimpíadas é muitas vezes o primeiro passo: dá origem a medições posteriores, conversas com o utente e a possibilidade de mudanças na sua situação clínica, que se refletem numa melhoria significativa da qualidade de vida da pessoa de forma verdadeiramente impressionante».
Os rastreios são sempre feitos com um elemento da Farmácia Ideal presente, uma garantia do acompanhamento posterior. «Se encontramos valores preocupantes, pedimos aos utentes que nos procurem: “Olhe que o conheço, temos de voltar a fazer o exame”», descreve Cindy Mendes, técnica de farmácia, mencionando a relação de proximidade que já se estabeleceu. «Como nos conhecem, regressam para avaliar a evolução dos valores».
Para a técnica, a gratuidade dos rastreios é uma das chaves do sucesso. «Além da falta de conhecimento ou da menor disponibilidade para procurar estes serviços, sabemos que, in- felizmente, há muitas pessoas que simplesmente não têm for- ma de os pagar», explica. Por isso, o objetivo foi sempre o de não excluir ninguém.
O ambiente em que o evento decorre também contribui para a forte adesão. Num parque, ao ar livre, com insufláveis para as crianças e momentos culturais como chamariz, as pessoas sentem-se mais disponíveis para avaliar a sua saúde. «Temos vários utentes que fazem parte de associações, ranchos folclóricos, cantares alentejanos e que nos dizem que querem estar ali no palco. É engraçado ver este envolvimento. O palco tem sempre ação».
Com mais de 500 participantes na edição de 2024, número que é previsível ser superado este ano, o balanço tem estado acima das expectativas. «É um número que para nós era impensável, sobretudo estando no Feijó e não no centro da cidade de Lisboa, por exemplo», reconhece Cindy Mendes. «Foi uma enorme satisfação perceber que conseguimos mobilizar tanta gente».
Uma das participantes das Olimpíadas é Natércia Nunes, frequentadora assídua da farmácia e que não perde uma edição. Avança com o exemplo de uma vizinha para justificar a importância que atribui a este projeto, a qual, graças às Olimpíadas, descobriu uma doença e iniciou tratamento. «Isto pode fazer toda a diferença na saúde das pessoas», comenta. Para si, o ambiente descontraído e a combinação da vertente clínica com a recreativa são determinantes. «Se fosse apenas para receber “picadinhas” talvez as pessoas não aderissem tanto, mas assim junta-se o útil ao agradável. Eu já fiz rastreios de visão, diabetes, pressão arterial, pele… Há sempre muita adesão».
O balanço, para a equipa da Farmácia Ideal, não podia ser mais positivo. «O retorno da população é o que nos motiva a continuar e a procurar fazer sempre mais e melhor», afirma Raquel Ramalheira, reforçando a visão que tem da profissão. «O farmacêutico é muito mais do que um dispensador de medicamentos. Muitas vezes, a farmácia é a primeira porta de acesso à saúde e temos uma capacidade de adaptação incrível às necessidades da nossa comunidade».