Farmácias chamadas a intervir no pós-pandemia
Ministro da Saúde quer farmácias a apoiar a dispensa de medicação hospitalar e a renovação da terapêutica já em 2023.
Texto de Sandra Costa | Fotografia de Mário Pereira
O Orçamento do Estado (OE) para 2023 inclui duas medidas que envolvem uma maior participação das farmácias no sistema de saúde: a distribuição de medicamentos hospitalares nas farmácias comunitárias, uma medida que vai beneficiar 150 mil doentes crónicos, e que já tinha sido ensaiada, com sucesso, durante a pandemia, e a renovação automática da medicação crónica. Isto mesmo reiterou o ministro da Saúde durante a conferência anual da Plataforma Saúde em Diálogo, que decorreu a 27 de outubro, no auditório da Associação Nacional das Farmácias (ANF). No discurso de abertura dos trabalhos, Manuel Pizarro aproveitou para agradecer o esforço dos profissionais de saúde, «enfermeiros, mas também farmacêuticos» na campanha de vacinação contra a gripe e a COVID-19.
A conferência propôs-se debater os desafios da saúde no pós-pandemia. Ora, se a pandemia alguma coisa mostrou foi a importância da «interdependência e da partilha de soluções» na área da saúde, defendeu Ema Paulino, garantindo que a ANF está aberta a um «diálogo contínuo e profícuo» com o Ministério da Saúde. «Podem sempre contar connosco», garantiu a presidente da ANF.
A par do desenvolvimento da saúde digital, a pandemia promoveu o trabalho em parceria e a colaboração intersectorial. «Houve trabalho em colaboração como nunca tinha havido antes», notou Catarina Marcelino, do Instituto da Segurança Social. A urgência de encontrar soluções para combater a COVID-19 agilizou a tomada de decisões, reduziu a burocracia e «derrubou preconceitos». Um exemplo foi a Operação Luz Verde, que permitiu às farmácias comunitárias a dispensa de medicamentos hospitalares, lembrou Ana Tenreiro, da Direção da ANF. «Temos uma porta aberta para começarmos a dialogar», considerou. O próximo passo é iniciar a partilha de dados em saúde, «essencial, por exemplo, para o processo de renovação da terapêutica».
É preciso agora implementar no terreno o que «funcionou bem em regime de exceção», pediu a presidente da Plataforma Saúde em Diálogo, porque, como explicou, a pandemia deixou lacunas grandes, que não se colmatam com um esforço acrescido por parte dos profissionais de saúde. «É preciso uma viragem com visão estratégica» e uma maior aposta no setor social, defendeu Maria do Rosário Zincke.
Criação de equipas mistas e mais trabalho intersectorial, a nível decisório e no terreno, são as soluções para um sistema de saúde sustentável, foi a opinião consensual. «O que faz sentido é um modelo mais integrado que envolva hospitais, centros de saúde, farmácias, associações de doentes e setor social», defendeu Xavier Barreto, farmacêutico de formação e presidente da direção da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH).