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Legislativas 2025: Perspetiva sobre as prioridades estratégicas para a área da Saúde

A presidente da ANF identifica oito áreas em que o reforço da intervenção das farmácias, em articulação com o SNS, pode trazer ganhos para a saúde das populações.

Opinião de Ema Paulino | Artigo publicado no Netfarma

 

A saúde enfrenta hoje desafios estruturais, nomeadamente a escassez de recursos, em particular de profissionais de saúde, num contexto de aumento das necessidades da população, mais envelhecida e com maior carga de doença crónica. Estes desafios, de dimensão global, exigem a definição de uma estratégia nacional de longo prazo, baseada na continuidade e no envolvimento de todos os stakeholders do setor. Tal alinhamento e definição de prioridades é essencial, sendo, no entanto, frequentemente dificultado por ciclos políticos curtos e mudanças de orientação em matéria de políticas de saúde pública. 

Neste enquadramento, a Associação Nacional das Farmácias (ANF) identifica oito áreas prioritárias em que o reforço da intervenção das farmácias, em articulação com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), pode trazer ganhos concretos para a saúde e o bem-estar das populações, facilitando a jornada de saúde das pessoas e criando condições para a melhoria da atividade das farmácias. 

As farmácias comunitárias desempenham um papel central no acesso seguro ao medicamento, a tecnologias de saúde, a serviços farmacêuticos e cuidados de saúde, com especial importância para as populações mais vulneráveis, envelhecidas e isoladas. O país pode contar com uma rede de mais de 2.900 farmácias comunitárias, onde entram mais de 570 mil pessoas por dia, distribuída pelo território nacional, abrangendo zonas de pouca densidade populacional onde a farmácia é, por vezes, o único serviço de saúde disponível para a população. Pode contar com profissionais de saúde altamente qualificados, que têm uma relação de enorme confiança e proximidade com as pessoas e a comunidade em que se inserem. 

  1. Intervenção das farmácias em situações de patologia aguda simples – As farmácias comunitárias podem assumir um papel reforçado na gestão de situações clínicas ligeiras, contribuindo para reduzir a procura inadequada dos serviços de urgência hospitalar, e diminuindo a pressão sobre os cuidados de saúde primários. Esta prática, já validada noutros sistemas de saúde, permite que os farmacêuticos, com recurso a protocolos de intervenção farmacêutica previamente acordados, possam solucionar várias situações na farmácia ou referenciar aquelas que careçam de outro tipo de intervenção para outros níveis de cuidados. A experiência nacional demonstra o potencial desta intervenção: em 2024, mais de 174 mil casos foram resolvidos nas farmácias, com 96% dos utentes tratados sem necessidade de recorrer a cuidados de saúde primários. Propõe-se assim, a formalização e expansão deste programa em colaboração com o SNS, abrangendo, entre outros, testes rápidos para infeções respiratórias e triagem de infeções urinárias não complicadas. 

  1. Acompanhamento farmacêutico na renovação da terapêutica crónica – A renovação da terapêutica crónica nas farmácias é uma resposta eficaz ao desafio da baixa adesão à medicação em Portugal, onde 50% dos doentes crónicos não cumprem corretamente o tratamento. Apoiado nas recentes alterações legislativas que permitem o acesso dos farmacêuticos ao histórico de prescrições e de dispensas, e o prolongamento da validade das prescrições médicas, com dispensa, pelo farmacêutico, da quantidade necessária para o tratamento durante dois meses, propõe-se que este serviço seja incrementado, através da criação de um programa formal de acompanhamento farmacêutico na gestão da doença, no qual o farmacêutico avalie a continuidade da terapêutica, identifique potenciais riscos e encaminhe os utentes sempre que necessário, reforçando o seu papel no controlo de doenças crónicas como a diabetes e a hipertensão, e contribuindo para a redução da pressão sobre os cuidados de saúde primários. 

  1. Integração em rastreios nacionais e na testagem rápida de infeções – A inclusão das farmácias comunitárias em programas nacionais de rastreio e testagem rápida é fundamental para a promoção do diagnóstico precoce e para a redução das desigualdades no acesso à saúde. O envolvimento das farmácias no rastreio do cancro colorretal, testagem rápida VIH e hepatites virais, por exemplo, pode melhorar as taxas de participação e contribuir decisivamente para o cumprimento das metas nacionais de saúde pública, como já demonstrado em outros países europeus. De acordo com o recente Relatório “Perfis do Cancro por País 2025”, publicado pela Comissão Europeia e pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal apresenta uma taxa de cobertura efetiva do rastreio do cancro colorretal de apenas 14%, comparado com 42% da União Europeia. 

  1. Alargamento da intervenção na vacinação, promovendo equidade no acesso As farmácias têm vindo a reforçar o seu papel na vacinação, nomeadamente nas campanhas sazonais da Gripe e da COVID-19. A sua inclusão no Plano Nacional de Vacinação (PNV), com dispensa e administração gratuita de vacinas para os utentes, promove maior equidade, especialmente nas zonas mais afastadas dos grandes centros urbanos, ajudando a manter a cobertura vacinal e a reforçar a confiança da população nas campanhas de vacinação. O alargamento da participação das farmácias no PNV torna-se ainda mais relevante considerando os dados recentes da DGS, em que se verifica um decréscimo da cobertura vacinal contra tétano e difteria ao longo dos anos, particularmente a partir dos 25 anos de idade, assim como da cobertura vacinal contra difteria, tétano e tosse convulsa em dose reduzida nas grávidas. 

As farmácias, tendo em conta a sua proximidade à população e o conhecimento técnico-científico qualificado dos seus profissionais, podem ter aqui um papel fundamental, contribuindo ainda no combate à hesitação vacinal. Tal é particularmente relevante, considerando inclusive o contexto emergente de fluxos migratórios e para o qual a proximidade e acessibilidade das farmácias poderá contribuir para uma resposta eficaz à atualização dos esquemas vacinais incompletos e promoção da literacia em saúde. 

  1. Desenvolvimento dos canais digitais de comunicação e partilha de informação – A integração tecnológica e a interoperabilidade de dados entre as farmácias e outras instituições de saúde, do SNS ou do setor privado, incluindo o desenvolvimento de canais de comunicação eletrónicos com outros profissionais de saúde, é fundamental para a promoção de melhores resultados em saúde. A integração das farmácias comunitárias no Registo de Saúde Eletrónico (RSE) e o desenvolvimento de canais digitais de comunicação direta com outros profissionais de saúde são estratégicos para garantir a continuidade, a segurança e a qualidade dos cuidados prestados. O acesso a informações clínicas relevantes permitirá ao farmacêutico intervir de forma mais eficaz na gestão da terapêutica, na deteção de reações adversas e na promoção da adesão ao tratamento. Do mesmo modo, o acesso por outros profissionais de saúde ao registo das intervenções farmacêuticas realizadas contribui para decisões mais informadas por parte de toda a equipa multidisciplinar. 

  1. Reforço da atratividade do mercado nacional e da acessibilidade ao medicamento – A indisponibilidade de medicamentos impacta diretamente a saúde das pessoas, comprometendo a eficácia dos tratamentos. A ANF defende a adoção de políticas de preço dos medicamentos que promovam a atratividade do mercado nacional, a sustentabilidade do circuito do medicamento e o combate à escassez, assegurando a continuidade da disponibilidade de medicamentos para a população. A perda de atratividade do mercado português, resultante da sucessiva redução de preços através das Revisões Anuais de Preço, contribuiu para o aumento da escassez de medicamentos. Depois desta trajetória negativa, os critérios dos últimos 3 anos permitiram apenas atenuar a degradação contínua do preço dos medicamentos em Portugal. 

  1. Revisão do modelo de incentivos à dispensa de medicamentos genéricos pelas farmácias – A promoção do uso de medicamentos genéricos (MG), responsável por significativas poupanças para o Estado e famílias, deve ser reforçada. Estima-se que, só em 2024, os genéricos permitiram alocar à Saúde um financiamento superior a 670,5 milhões de euros (ME), mais 90 ME que no ano anterior. Neste âmbito, propõe-se a revisão do modelo de incentivos à sua dispensa, atualizando o regime de remuneração previsto, para assegurar o cumprimento das metas definidas no Orçamento do Estado para 2025, com vista a aumentar a sua quota de mercado, em unidades, para, pelo menos, 55 % e a valorizar o contributo das farmácias comunitárias. 

8. Apoio à manutenção das farmácias em territórios de baixa densidade populacional – A rede de farmácias desempenha um papel crucial na garantia da coesão territorial e na mitigação das desigualdades no acesso à saúde. A desertificação de várias regiões do país ameaça a continuidade destes serviços essenciais. Nesse sentido, é necessário promover apoios económicos e/ou benefícios fiscais, garantindo que as farmácias em situação de maior fragilidade têm capacidade económica e os recursos necessários para continuar naquelas regiões e a responder às necessidades em saúde das populações que servem. 

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