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Testagem de proximidade

Alargamento da oferta de testes poupa deslocações aos utentes.

Texto de Pedro Veiga | Fotografia de Pedro Loureiro

 

Mal-estar geral, náuseas frequentes, sensação de enfartamento após as refeições e emagrecimento súbito. Estes foram os sintomas que anunciaram a Maria Adelaide Ventura, de 65 anos, que algo não estava bem com a sua saúde.

«Andei assim muito tempo», recorda, «até ir ao médico fazer os exames e acusar a bactéria». A bactéria a que se refere é a Helicobacter pylori, causa frequente de úlceras pépticas e gastrites, apenas resolvidas com recurso a antibiótico. Foi essa a solução prescrita pelo médico de Maria Adelaide mas, «depois de terminar o antibiótico, continuava mal», explica.  Preparava-se para  agendar nova consulta, para tentar saber por que razão persistiam os sintomas, quando «vim à farmácia e percebi que faziam o teste a essa bactéria. Fiz o teste e ainda estava positiva. Falei logo com o médico, que me receitou outro cocktail de antibióticos».

O teste à Helicobacter pylori é um dos serviços pres- tados na Farmácia Silva Domingos, em Vila de Rei. Faz parte de um leque de outros testes disponibilizados pela farmácia, alargado após a boa recetividade da população ao trabalho de testagem à COVID-19, realizado a partir de janeiro de 2021. «No princípio, estava um bocado renitente em fazer os testes, porque o gabinete é único, não é muito amplo, e ia obrigar a um esforço grande na desinfeção», recorda Maria de Lurdes Domingos, proprietária e diretora-técnica da farmácia, «mas, uma vez que foi permitida a realização fora da farmácia, adaptámos uma carrinha de transporte de pessoas de mobilidade reduzida e estacionámo-la aqui à porta. As pessoas preenchiam todos os papéis no hall da farmácia e faziam os testes dentro da carrinha. Correu muito bem».

Um dos testes que passou a poder ser feito na farmácia recentemente foi à Streptococcus pyogenes, bactéria muitas vezes responsável por dores de garganta. Foi, aliás, essa a hipótese que ocorreu a Nuno Farinha, consultor informático, após dois dias com aquilo que descreve como «algum desconforto na garganta». Ponderou deslocar-se ao hospital mais próximo, em Abrantes - «teria perdido uma manhã ou uma tarde, porque as filas de espera nos hospitais são cada vez maiores», justifica -, mas acabou por decidir passar primeiro na farmácia e fazer ali o teste: colheita orofaríngea com zaragatoa e 15 minutos de espera até chegar o resultado. «O teste deu negativo, acabou por não ser uma inflamação de grande dimensão. Foram-me aconselha- das umas pastilhas e, passado um dia, comecei a notar melhorias até a dor desaparecer».

Vila de Rei não tem serviço de urgência nem oferta permanente de serviço de colheitas para análise clínica em laboratório. Neste contexto, a testagem em farmácia ganha importância redobrada enquanto ferramenta diagnóstica de proximidade e resposta rápida. Maria de Lurdes Domingos acrescenta-lhe ainda outra dimensão de utilidade: a gestão das expectativas dos clientes.

O sítio onde a pessoa vem primeiro é à farmácia e há muitos pedidos ao balcão de “dói-me a garganta, eu quero um antibiótico”. Com este teste, podemos responder “olhe, nós temos uma forma de saber se a sua infeção é viral ou bacteriana”. Se for viral, fazemos o aconselhamento; se for bacteriana, podemos entrar em contacto com o médico com essa informação».

Este tipo de interação já acontecia antes da pandemia de COVID-19, com utentes com sintomas de infeção urinária. A testagem de despiste destas infeções foi dos primeiros serviços do género a ser disponibilizado na Farmácia Silva Domingos. Maria dos Anjos Melo, 54 anos, empregada numa salsicharia, utilizou-o recente- mente. «De vez em quando, tenho infeções urinárias que se manifestam muito rapidamente, logo com muita dor», começa por contextualizar. «Fiz o teste, deu positivo, a seguir tomei o antibiótico, como recomendou a médica de família, e fiquei bem».

Para Andreia Domingos, outra utente da farmácia, a acessibilidade do serviço foi essencial para tomar decisões sobre a gestão de um episódio com a filha. «Durante vários dias, sempre que ela ia à casa de banho, sentia incómodo. Passei na farmácia, numa sexta-feira à noite, para comprar um daqueles copos para análises de urina, e foi quando me explicaram que poderiam fazer o teste no dia seguinte. Como o laboratório de aná- lises só estava aberto na terça-feira, foi uma questão de timing e de custo, porque foi muito mais barato na farmácia», resume. «O teste acabou por dar negativo e depois, em consulta com o pediatra, percebeu-se que era outra coisa, mas o teste deu logo para despistar aquela infeção».

Maria de Lurdes Domingos vai manter a aposta da farmácia nos serviços de testagem para despiste de doenças. A experiência acumulada com a pandemia tornou evidente o valor das farmácias nesse domínio: têm profissionais capazes de dar resposta e a capilaridade da rede permite um grau de proximidade e acessibilidade que outros serviços de saúde não conseguem oferecer. O que falta, então, para que este tipo de serviço farmacêutico atinja o seu potencial? Vontade, afirma a diretora-técnica da Farmácia Silva Domingos. Vontade de ultrapassar as barreiras económica e de conhecimento: «É preciso comunicar às pessoas que a farmácia não é só dispensa de medicamentos. Tem de haver mais divulgação destes serviços e eles têm de ser mais acessíveis. Alguns testes são caros e se houvesse uma comparticipação da parte do Estado, acho que faria uma enorme diferença».

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